chegada ( partida )
a um amontoado de casas
perguntei
que mundo é este
que mundo
fantasmagórico
surrealista
cómico
suposto que se aceita por prudência?
julgo
que os seus habitantes
provieram dos répteis e
estes dos peixes
.mas quando tal afirmo
prefiro desfocar a origem
desta metamorfose
DETERMINISMO E LIBERDADE
DESCONTINUIDADE E AFRONTAMENTO
MUDANÇA E NOVIDADE
são palavras desconexas
neste presente histórico
( mas deixemo-nos ficar por aqui )
sentimo-nos bem
sentimo-nos bem
nós outros os sábios
neste fixismo que nos leva a comentar
os outros os não sábios
sentimo-nos bem
sentimo-nos bem
eternamente convencidos
eternamente inebriados
eternamente dissimulados
eternamente supostos
eternamente castos
eternamente limitados
eternamente condenados
às realidades de um folhetim de rádio
duma colcha de croché
dum baralho de cartas
dum jornal de véspera
da política local
do enxoval da filha por casar ou
dos amores ilícitos da vizinha
o nosso dormir é inocente
o nosso ressonar é puro
porque nos havemos de preocupar
com a miséria do mundo?
nós só queremos uma boca para falar
uma fêma para amar
uma lista para votar
uma malha para fazer
um copo para beber
um osso para roer
um deus para pedir
uma cama para dormir
uma calúnia para repetir
um vestido para vestir
e tudo o mais é política
de novo chegada
a este amontoado de casas
prédios ruas ruelas
amados e desalinhados
pergunto
que mundo é este
que mundo
que estrabucha e
não vive?
christian martin weiss